terça-feira, 6 de fevereiro de 2007

Jornal argentino alerta sobre a destruição da Amazônia

Clarín afirma que a derrubada de árvores contribui com oaquecimento global e reconhece que o governo do Brasil tenta freardesmatamento, mas sem êxito

Marina Guimarães

BUENOS AIRES - A destruição do Amazonas é destaque do jornalargentino Clarín, que publica uma série sobre o assunto desdedomingo. Na edição desta segunda-feira, o jornal destaca em sua capa que"o pulmão verde do planeta corre perigo", diante de uma"destruição sem piedade". O jornal narra que "fazendeirose garimpeiros já desflorestaram 550 mil quilômetros quadrados, quase duasvezes a província de Buenos Aires".
Em reportagem que ocupa duas páginas, o Clarín critica duramenteos garimpeiros que "só pensam em se tornarem ricos" e a"expansão descontrolada das atividades agropecuárias".
O jornal justifica que as denúncias sobre a destruição da região"não são reclamações de ecologistas exagerados, como costumavaqualificar com desdém o presidente George Bush aos que, há alguns anos,faziam advertências sobre o aquecimento global". O Clarínressalta que "a devastação do Amazonas traz efeitos concretos ealarmantes".
"Não só desaparecem umas 50 mil espécies por ano. A derrubada deárvores contribui enormemente com o aquecimento global, os especialistasestimam que 40% do oxigênio produzido na terra provêm das selvastropicais e a amazônica é a mais extensa, e isso já se sente aqui eagora. Em nossas praias, em nossos campos e em todo o mundo. O governo doBrasil tenta frear a derrubada de árvores sem êxito. Como puderamcomprovar nossos enviados o Amazonas parece terra de ninguém. Mas seufuturo nos afeta a todos", conclui.

Mais informações: http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/fev/05/92.htm

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2007

Homenagem

Dez anos sem Darcy
Por José Ribamar Bessa Freire*


Há dez anos, em pleno carnaval, morria no Hospital Sara Kubitschek, em Brasília, o senador Darcy Ribeiro, antropólogo e mulherólogo, criador e reformador de universidades, amigo dos índios, apaixonado pelo Brasil. Ele não teve a morte gloriosa com a qual sonhara, como falou meio-sério, meio-brincando: “Quero morrer aos 99 anos, com um tiro no peito, disparado por um marido traído”. Morreu aos 74 anos, sem poder escolher a arma, vítima de outra traição.
Darcy faz uma falta danada. O Brasil certamente estaria melhor e mais divertido se ele estivesse entre nós, com seu espírito irreverente e desabusado, com sua fantasia sem limites, com sua inteligência audaciosa e sua capacidade de pensar. Dez anos após, aproveito para relembrar a crônica na qual comentei seu projeto para a Amazônia e sua relação com Berta Ribeiro.

A bunda do câncer

Darcy escreveu os seus “Diários Índios” em 1949, “como uma carta a minha mulher, Berta, que era minha amada”. Mas só os publicou, como livro, um ano antes de morrer, em 1996, quando deu informações, no prefácio que redigiu, sobre o calibre do disparo que o acertou, a ele e a Berta:

“Então, no tempo deste diário, éramos jovens ou apenas maduros. Envelhecemos depois, uma pena. Saltamos já a barreira dos setenta. Ao fim, fomos atingidos por dois tiros: o câncer. Estamos ambos lutando, cada qual contra o seu. O de Berta a pegou na cabeça, justamente na área da fala. Não pôde ser extirpado, porque ela perderia a memória e o ser. Viraria um vegetal em coma perpétuo. Mas agüenta bem. Voltamos até a namorar, depois de vinte anos de separação. Eu a beijo na boca e prometo casar de novo com ela”.

Tive a satisfação de conhecê-los no exílio, quando não haviam completado ainda 50 anos. No final de 1969, Darcy passou por Santiago do Chile. Queria uma entrevista com Salvador Allende, presidente do Senado e candidato a presidente da República. Thiago de Melo, amigo dos dois, intermediou o convite para um almoço na casa do próprio Allende. Peguei carona e participei daquele encontro entre “cachorros grandes”.
Depois, já no Peru, trabalhei num projeto da Reforma Educativa do governo Velasco Alvarado, inspirado por Darcy Ribeiro. Eram ações desescolarizadas, realizadas em Villa El Salvador, uma das maiores favelas da América Latina. A partir daí, convivi um pouco mais de perto, sobretudo com Berta, que continuou a mesma luta travada por Darcy contra o câncer, morrendo exatamente nove meses depois, em 17 de novembro de 1997.
Darcy nos deixou no dia 17 de fevereiro, mas combateu o bom combate até o fim. Saiu pro pau com o câncer, desfazendo aquele clima de tragédia com que esta doença costuma envolver suas vítimas, humilhando-as, como bem observou o jornalista Zuenir Ventura: “Com um estoicismo cheio de humor, ele dessolenizou o câncer, tirou-lhe aquela gravidade homicida, brincou com ele, gozou-o, debochou e de certa maneira desmoralizou-o. Passou a mão na bunda do câncer, como ele diria. Depois de Darcy, o câncer não será o mesmo, não terá a mesma arrogância”.
Darcy e Berta, juntos ou individualmente, nos legaram uma obra vital para a compreensão da Amazônia. Ele, mais exuberante, com maior penetração na mídia, acabou ficando mais conhecido. Nos “Diários Índios”, pede ao leitor não estranhar “a quantidade de palavras que você talvez desconheça, porque são do vocabulário que descreve a floresta amazônica. Isso é muito bom, porque você irá aprendendo a ser amazônida também”. Mineiro de nascimento, o próprio Darcy aprendeu com os índios - e nos ensinou - os mistérios da Amazônia.

O Projeto Caboclo

Sua última intervenção no Senado foi justamente a elaboração do “Projeto Caboclo” para a ocupação da região. Preocupado com os estudos e simulações em computador que apontavam o prazo final da destruição da floresta amazônica até o ano 2.050, caso sejam mantidas as condições de exploração, Darcy propõe como alternativa o uso da sabedoria milenar dos índios.
Ele constatou que foram os índios que “deram à nossa civilização a fórmula de sobrevivência nos trópicos. Nos transmitiram inventos adaptativos que desenvolveram em milhares de anos e que se cristalizaram nas formas de caça, de pesca e, sobretudo, de lavoura. Eles cultivavam, habitualmente, em suas roças, umas quarenta plantas que são até hoje o sustento básico de nosso povo, como é o caso da mandioca, do milho, do amendoim, dos feijões e de muitas outras plantas”.
O “Projeto Caboclo”, baseado no conhecimento que se tem sobre as formas tradicionais de vida de comunidades amazônicas, pretende desenvolver experimentos que possam servir para comprovar que é possível a ocupação permanente e ecologicamente equilibrada da Amazônia.
A contribuição de Berta Ribeiro, menos badalada, é, no entanto, de extrema importância e até mesmo mais significativa para algumas áreas. Berta, como uma formiguinha, reuniu os conhecimentos mais avançados existentes sobre a floresta tropical e organizou a exposição “Amazônia Urgente - Cinco séculos de História e Ecologia”, que recebeu o Prêmio Nacional de Ecologia de 1989.
Neste mesmo ano, publicou, em belíssima edição bilíngüe, o seu “Arte Indígena, Linguagem Visual”, onde mostra como toda atividade indígena está impregnada de senso estético, exemplificando com a produção artística de muitos grupos da Amazônia.. Produziu ainda o “Dicionário do Artesanato Indígena”, muito útil para os pesquisadores, porque oferece informações práticas necessárias para o manejo e o estudo dos objetos encontrados nas aldeias e recolhidos aos museus.
A região do alto Rio Negro foi visitada várias vezes e estudada com especial carinho por Berta Ribeiro. Ela reconheceu a importância da preservação da mitologia Dessana e, junto com o padre Casemiro Beksta, organizou a sua publicação, apresentando-nos dois intelectuais indígenas: Firmiano e Luiz Gomes Lana.
Ela é ainda autora, entre outros trabalhos, de “Diário do Xingu”, “Artes Indígenas da Amazônia”, “O índio na cultura brasileira” e um sem número de artigos publicados em revistas especializadas, além de organizadora de outros tantos, cabendo destacar os três volumes da “Suma Etnológica”. Qualquer homenagem a Darcy Ribeiro não pode ignorar sua parceira de tantas viagens pelo mundo do conhecimento e da vida.
(Publicado originalmente no jornal Diário do Amazonas, 04/02/2007 )

* José Ribamar Bessa Freire é jornalista, professor da Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro (UNIRIO) e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), onde coordena o Programa de Estudos dos Povos Indígenas.

Jornal argentino alerta sobre a destruição da Amazônia

Clarín afirma que a derrubada de árvores contribui com oaquecimento global e reconhece que o governo do Brasil tenta freardesmatamento, mas sem êxito

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BUENOS AIRES - A destruição do Amazonas é destaque do jornalargentino Clarín, que publica uma série sobre o assunto desdedomingo. Na edição desta segunda-feira, o jornal destaca em sua capa que"o pulmão verde do planeta corre perigo", diante de uma"destruição sem piedade". O jornal narra que "fazendeirose garimpeiros já desflorestaram 550 mil quilômetros quadrados, quase duasvezes a província de Buenos Aires".
Em reportagem que ocupa duas páginas, o Clarín critica duramenteos garimpeiros que "só pensam em se tornarem ricos" e a"expansão descontrolada das atividades agropecuárias".
O jornal justifica que as denúncias sobre a destruição da região"não são reclamações de ecologistas exagerados, como costumavaqualificar com desdém o presidente George Bush aos que, há alguns anos,faziam advertências sobre o aquecimento global". O Clarínressalta que "a devastação do Amazonas traz efeitos concretos ealarmantes".
"Não só desaparecem umas 50 mil espécies por ano. A derrubada deárvores contribui enormemente com o aquecimento global, os especialistasestimam que 40% do oxigênio produzido na terra provêm das selvastropicais e a amazônica é a mais extensa, e isso já se sente aqui eagora. Em nossas praias, em nossos campos e em todo o mundo. O governo doBrasil tenta frear a derrubada de árvores sem êxito. Como puderamcomprovar nossos enviados o Amazonas parece terra de ninguém. Mas seufuturo nos afeta a todos", conclui.

Mais informações: http://www.estadao.com.br/ciencia/noticias/2007/fev/05/92.htm

Amazônia sob dois fogos

O que será do Brasil com o aquecimento da atmosfera?
Por Marcelo Leite*

Quando esta coluna chegar às bancas, já será conhecida de todos a parte cientificamente mais relevante do novo relatório de avaliação do quarto IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), abreviado para AR4. O AR4 prevê que a atmosfera se aquecerá mais ou menos 3C neste século.
Isso é uma enormidade, acredite. Mas o que acontecerá no Brasil? O que será das matas do quarto maior emissor de gases que agravam o efeito estufa, por queimar florestas e não tanto combustíveis fósseis?
Esse é o tema de uma série de previsões que o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) apresenta neste mês ao Ministério do Meio Ambiente. Algumas já vieram a público, como a de que a temperatura por aqui poderá subir até 4C (e isso levando em conta apenas as simulações do relatório anterior do IPCC, de 2001).
Na Amazônia, existe chance de o aumento beirar 8C, no pior cenário. No Nordeste e no Sul, esquentaria até 4C. No Centro-Oeste e no Sudeste, entre 4C e 6C.
Um dos sub-relatórios do Inpe tenta prever o que acontecerá com os grandes biomas brasileiros (domínios de vegetação) sob as condições projetadas de aquecimento global e regional. A bola de cristal é um programa de computador que os pesquisadores chamam de modelo.
No caso, trata-se de um modelo que simula a vegetação potencial de uma área. Ou seja, a vegetação que se instalaria no lugar se contassem somente fatores como temperatura e chuvas.
Apesar de complexo, o programa não leva em conta condições como o tipo de solo. Ele pode ser decisivo para surgir um encrave de cerrado, por exemplo, em meio a uma floresta (como ocorria originalmente em 14% do Estado de São Paulo).
O modelo desenvolvido por Carlos Nobre e Marcos Oyama é chamado de PVM, e gera mapas de vegetação depois de alimentado com montanhas de dados sobre precipitação e temperatura. Essas variáveis físicas sobre o futuro foram acumuladas a partir de 15 modelos climáticos utilizados nas projeções do IPCC-AR4.
A dezena e meia de programas simuladores não concorda muito quanto ao que acontecerá com as chuvas na Amazônia. Uns apontam que elas vão aumentar. Outros que vão diminuir. A mera elevação da temperatura, contudo, faz com que aumente a evaporação da água retida no solo e também a transpiração das plantas.
Sobra menos água sob a terra para irrigar as raízes, mesmo que haja um aumento da precipitação.
Os mapas futuristas delineiam esse ressecamento geral na forma de uma expansão do cerrado sobre o Pará.
Boa parte do que hoje é floresta amazônica seria substituída por uma vegetação mais seca, aberta e resistente ao fogo (chamada genericamente de savana, fora do Brasil). É o fantasma da "savanização" da Amazônia, que assombra cientistas de vários credos. Isso tudo como resultado apenas do aquecimento global.
Agora acrescente a isso o desmatamento de milhares de quilômetros quadrados todos os anos. Mesmo em queda, ele contribui para ressecar e esquentar fragmentos de floresta entre as áreas arrasadas.
Com isso, o fogo muitas vezes usado para limpar pastagens salta, entra e corre mais fácil pelo chão da mata que um dia já foi quase impossível de queimar sem derrubar.
A vegetação mais adaptada à seca e aos incêndios é o cerrado. Um bioma fenomenal, sob muitos aspectos, mas só malucos se aventurariam a trocar por ele a maior e mais rica floresta do planeta Terra. É fogo.

* MARCELO LEITE é doutor em Ciências Sociais pela Unicamp, autor do livro paradidático "Pantanal, Mosaico das Águas" (Editora Ática) e responsável pelo blog Ciência em Dia